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No dia 26 de agosto de 1926, numa pequena cidade chamada Careca, próxima à Vila de Quatipuru (Bragança/PA), nasce Augusto Gomes Rodrigues que, mais tarde, o mundo conheceria como Mestre Verequete. Esse menino de Quatipuru, que tem seu nome gravado na cultura musical brasileira por apresentar o nosso Carimbó, hoje faria 100 anos se vivo estivesse.

 

Desde cedo, Augusto teve contato com a cultura popular e a música através de seu pai, Antônio José Rodrigues, que tinha como profissão a de compositor de Bois e Pássaros Juninos. Aparentemente o mundo preparava um caminho para este menino. Ainda novo, com apenas três anos, depois de perder a mãe, Maximiana Gomes Rodrigues, mudou-se com o pai para Ourém em busca de outros caminhos. O jovem inquieto, aos 12 anos, resolveu ir morar sozinho em Capanema e lá chegando trabalhou como foguista. Somente em 1940 ele vai para Belém, indo morar na antiga Vila do Pinheiro, hoje conhecida como distrito de Icoaraci.

 

A relação com o curimbó, instrumento característico e que dá nome ao ritmo, é antiga e aparentemente iniciou na época que viveu em Ourém. Lá ele deu seus primeiros passos, no terreiro de Mãe Piticó. Já em Icoaraci, foi levado por uma moça que estava enamorado na época a um batuque. Lá chegando, num dado momento do culto, o sacerdote, dando continuidade ao ritual, cantou um apelo a “Verequete”, e aquela melodia o marcou. No dia seguinte, ao comentar com amigos do quartel onde trabalhava sobre a noite anterior, mencionou aquela música, e de pronto os colegas o chamaram de Verequete. E assim nasceu o nome.

 

O nome Verequete está intimamente ligado à cultura afro-religiosa, mais especificamente dentro da cultura de Mina, uma das nações que compõem o rico universo religioso de origem africana. Cada nação possui procedimentos e rituais característicos, que são a base do culto religioso herdado e praticado por muitos em nosso país. No Brasil, é no Maranhão que se apresenta de maneira mais forte e popular a Mina. Reza a lenda que, há muitos anos, um caboclo de lá chegou pelas bandas de cá, onde já era praticada a Encantaria, outra forma de culto nascido dentro da cultura indígena e relacionado às energias ligadas à mata e aos rios. A partir daí nasceu a Mina de Caboclo. Dentro deste ritual, Verequete é um Vodun: energia poderosa, que entre outras coisas, “permite” a chegada dos Caboclos à roda.  

 

O nome artístico representava muito bem o talento de Augusto Rodrigues. Compositor e tocador de curimbó de “pegada” única e tradicional, difundiu o Carimbó e presentou a cultura paraense com pérolas que enriqueceram a já extensa sonoridade brasileira, sem no entanto esquecer sua origem. Assim como muitos Mestres de cultura popular em nosso país, tinha uma vida dupla. Durante as apresentações de Carimbó, quando citado seu nome, era a certeza de que a roda iria ser quente. Suas composições estão na alma e na boca de muitos, muitos paraenses até hoje. Durante o dia, a realidade era diferente. Sem acesso aos direitos autorais de suas composições, muitos utilizadas por outros grupos e mestres, vivia de sua parca pensão, da ajuda de terceiros e de vender churrasquinhos na frente de sua humilde casa em Icoaraci.

 

Porém, sua perseverança e talento foram sempre fortes, possibilitou que ele se destacasse entre tantos outros talentosos Mestres de Carimbó do Pará, com sua pegada e composições como “O Carimbó Não Morreu”, “Xô Peru”, “Morena Penteia o Cabelo” e “Chama Verequete”, que falam do dia a dia dos ribeirinhos de forma alegre e divertida. Apesar de sua vida humilde, sua persistência foi grande e ultrapassou os limites do estado, tendo se apresentado com sucesso em diversas cidades pelo Brasil, rompendo fronteiras.

 

Ainda em vida, foi homenageado pelo projeto “Verequete — o Rei do Carimbó”, o qual promoveu shows e a produção de CDs (remasterização e reprodução de músicas contidas nos discos em vinil lançados por Verequete até 1995) e de um livro. Também foi personagem do curta-metragem “Chama Verequete” (2002), dirigido por Luiz Arnaldo Campos e Rogério José Parreira.

 

O merecido reconhecimento veio em 2006, quando recebeu das mãos do então Presidente Lula o título de Comendador da Ordem do Mérito Cultural, concedido pelo Ministério da Cultura. 

 

Mestre Verequete faleceu em 2009, na capital, mas deixou um legado que continua vivo, inspirando mestres e grupos de carimbó por todo o Pará. Nada melhor representa seu talento e pegada tradicional que esta composição:

Chama Verequete, ê, ê, ê, ê / Chama Verequete, ô, ô, ô, ô

 

Chama Verequete, ruuuum / Chama Verequete...

 

Chama Verequete, oh! Verê / Oi, chama Verequete, oh! Verê

 

Ogum balailê, pelejar, pelejar / Ogum, Ogum, tatára com Deus

 

Guerreiro Ogum, tatára com Deus / Mamãe Ogum, tatára com Deus

 

Aruanda, aruanda, aruanda, aruanda ê / Mandei fazer meu terreiro

 

bem na beirinha do mar / mandei fazer meu terreiro

 

só pra mim brincar

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