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REUNIÃO DO COMITÊ GESTOR DA SALVAGUARDA DO CARIMBÓ DISCUTE LANÇAMENTO DE EDITAL PARA PREMIAR MESTRES E GRUPOS DO PARÁ

  Aconteceu durante todo o dia de hoje, 16, a Reunião do Comitê Gestor da Salvaguarda do Carimbó, no auditório do IPHAN Pará. Participaram mestres e lideranças do carimbó de várias partes do Estado, discutindo ações para a salvaguarda desse bem cultural. O carimbó foi registrado como patrimônio imaterial brasileiro em 2014, após quase uma década de luta e mobilização do movimento da Campanha do Carimbó.

  A Campanha do Carimbó é o movimento cultural e social protagonizado por mestres, grupos e comunidades carimbozeiras do Pará desde 2005, responsável pela luta vitoriosa realizada junto ao IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – para registrar o Carimbó como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, objetivo conquistado e celebrado coletivamente no dia 11 de setembro de 2014. O Comitê Gestor da Salvaguarda do Carimbó é uma instância da política de salvaguarda oficial articulada em parceria com IPHAN em 2015 para garantir a representação e participação social e comunitária na definição das ações a serem promovidas em prol desse bem cultural, sendo formado por representantes do IPHAN Pará e do movimento do carimbó de vários municípios paraenses.

  Após a conquista do registro como patrimônio nacional em 2014, o movimento da Campanha do Carimbó decidiu iniciar a mobilização junto aos grupos e comunidades carimbozeiras para a discussão da próxima etapa desse processo: a construção do Plano de Salvaguarda do Carimbó e o fortalecimento da auto-organização comunitária em âmbito estadual e nacional.

Por isso, um dos assuntos da reunião será a avaliação dos resultados do II Congresso Estadual do Carimbó, realizado nos dias 24, 25 e 26 de maio deste ano em Ananindeua, com a participação de dezenas de delegados vindos de 23 municípios. O Congresso definiu as ações prioritárias a serem desenvolvidas pelo IPHAN e parceiros na salvaguarda do Carimbó, além de ter oficializado a criação da Associação do Carimbó do Estado do Pará – ACEPA, entidade que congrega carimbozeiros de todo o estado e cuja organização é fruto de ampla articulação promovida pela Campanha do Carimbó junto aos grupos e comunidades carimbozeiras paraenses.

  Outro objetivo da reunião do Comitê será discutir o lançamento pelo IPHAN do Edital “Carimbó Nosso Patrimônio”, que pretende premiar mestres, mestras e grupos de carimbó do Pará através de seleção pública. Esse edital é uma das principais reivindicações do movimento carimbozeiro organizado, tendo sido definido como prioridade desde o I Congresso do Carimbó em junho de 2015. A proposta é buscar garantir o atendimento das necessidades mais urgentes dos grupos e mestres tradicionais, proporcionando o acesso a recursos públicos para ações de preservação, proteção, valorização, transmissão e difusão desse patrimônio cultural que é o nosso carimbó.

  Inicialmente, foi pleiteada pelo movimento ao Ministério da Cultura a liberação de 600 mil reais do Fundo Nacional de Cultura, para contemplar 60 premiados. Diante da contingência orçamentária e as reduções decorrentes, o IPHAN destinou 129 mil de seu próprio orçamento para a ação. Assim, mesmo contemplando uma menor quantidade de grupos, foi possível garantir o edital. Mesmo assim, a avaliação da Campanha do Carimbó é positiva, pois a realização do edital ainda em 2017 significa o comprometimento e a participação do poder público nas ações de salvaguarda desse patrimônio, que até então vinham sendo sustentadas unicamente pelos mestres e seus grupos, sem nenhum apoio governamental.

  A Campanha considera que esta iniciativa é um desdobramento e uma continuidade do processo de registro do carimbó como patrimônio cultural nacional, bandeira levantada e sustentada por grupos e mestres tradicionais de carimbó desde 2005, quando se iniciaram as primeiras discussões com o IPHAN e o Ministério da Cultura na cidade de Santarém Novo, região litorânea do Pará.

  É uma etapa crucial da longa luta de nossas comunidades em prol da valorização e reconhecimento efetivos dessa manifestação que é uma das principais matrizes culturais do povo paraense e amazônida. É também uma valiosa oportunidade para afirmar a importância de nossos mestres e mestras, que há mais de dois séculos vem atuando firmemente em seus grupos e localidades, mantendo vivas as tradições, as práticas e os saberes do carimbó.

CARIMBÓ - Há mais de dois séculos, o Carimbó mantém sua tradição em quase todas as regiões do Pará, e tem se reinventado constantemente. Seus instrumentos, sua dança e música são resultados da fusão das influências culturais indígena, negra e ibérica; e a memória coletiva dos mestres e seus descendentes tem mantido vivo estes aspectos. Entretanto, a principal característica do Carimbó está nas formas de organização e reprodução sociais em torno dele, no cotidiano de sociabilidade dos carimbozeiros, seja ele relativo ao dia-a-dia do trabalho ou das celebrações religiosas e seculares. De acordo com os registros existentes, o carimbo foi trazido ao Brasil por negros escravos africanos e incorporou influências indígenas e ibéricas, dando origem a uma manifestação singular, representada por grupos que se espalham por vários municípios.

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL BRASILEIRO - O Carimbó foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão, pelo Iphan, em setembro de 2014 e recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Entre os anos de 2008 e 2013, ocorreu a pesquisa referente ao Levantamento Preliminar e Identificação do Carimbó nas Mesorregiões Nordeste Paraense, Metropolitana de Belém e Marajó. Os pesquisadores visitaram mais de 150 localidades, em 45 municípios, e realizaram 415 entrevistas. O objetivo da  pesquisa não era ouvir e identificar todos os grupos de carimbó do Estado do Pará e, sim, atingir o maior número possível, com o levantamento de informações em campo, por meio de observação e entrevistas. Também foram realizadas dez oficinas de retorno dos resultados nos municípios de Irituia, Vigia, Curuçá, Maracanã, Marapanim, Santarém Novo, Salvaterra, Soure, Cachoeira do Arari e Belém. Este trabalho integra o processo de registro e teve a participação da população dos municípios que compõem essas mesorregiões, e o envolvimento da população foi fundamental para indicar e fornecer informações sobre as referências culturais mais significativas e representativas desse bem imaterial.

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