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Ajeum Amazonico

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O estado do Pará é o maior produtor de dendê, assim como é a maior população auto declarada preta e parda do Brasil, segundo dados do IBGE. Mas, onde é que você come um acarajé, um abará, um vatapá, entre outros quitutes temperados com dendê fora dos terreiros e em festas de santo? Essa, a culinária tradicional de terreiro é que você terá oportunidade de se deliciar no evento organizado pelo FONSANPOTMA, Rádio Exu e FOPAFRO na Praça da República, que envolve dois aspectos importantes.

 

O rico universo do paladar do paraense evolve também a culinária negra pela cultura, em comidas como a maniçoba, que também está presente e é tradicional em Moçambique e no Congo, assim como na Bahia. É o que afirma Fonsanptma, que prima pela segurança alimentar e nutricional, pelo Direito Humano da Alimentação adequada, saudável e de acordo com a tradição e a cultural na Amazônia.

 

O segundo, e não menos importante será a comemoração do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro, oficializado pela Presidência da República, em 2007, e instituído pela Lei nº 11.635. A data rememora o dia do falecimento da Iyalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum (BA), vítima de intolerância por ser praticante de religião de matriz africana. A sacerdotisa foi acusada de charlatanismo, sua casa foi atacada e pessoas da comunidade foram agredidas. Ela faleceu no dia 21 de janeiro 2000, vítima de infarto. Desde ai, o dia é celebrado pelo afro religiosos de todo o Brasil.

 

A importante reflexão sobre estes dois pontos, aparentemente distintos, motivou a ação Kitanda Afro, que vai ocorrer na Praça da República no próximo domingo. O evento levará a praça o gosto da matriz africana que sempre temperou a mesa da Amazônia, mostrando a importância de valorizar a herança cultural negra latente em nossa identidade amazônica e diversas atividades relacionadas ao universo da afro religiosidade.

 

“A matriz africana sofre com o racismo na sociedade brasileira. São vários os ataques e as formas de violência vivenciados pelos membros de comunidades de povos tradicionais de matriz africana” destaca Táta Kinamboji, um dos organizadores voluntários da ação. Os dados da violência, oferecidos pelo grupo, realmente assustam. Somente em 2016, uma sequência de oito assassinatos vitimaram pais de santo na zona metropolitana de Belém, além das ameaças de proibição de abates de animais, um dos elementos característicos desta alimentação tradicional de terreiro, praticados no Brasil pelo menos há 5 séculos e provocados, especialmente, pela intolerância religiosa crescente no país, segundo Táta Kinamboji.

 

"Os terreiros são lugares de preservação de valores civilizatórios e mantenedores de princípios como a circularidade, o respeito aos mais velhos e aos mais jovens, a divinização da natureza, a preservação de línguas africanas e o hábito alimentar próprio, e são esses valores que eles vão levar, em alimentos, perfumes, moda e amuletos até a Praça da República" informa Táta Kinamboji.

 

A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças e práticas religiosas ou a quem não segue uma religião. É um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana. O agressor costuma usar palavras agressivas ao se referir ao grupo religioso atacado e aos elementos, deuses e hábitos da religião. Há casos em que o agressor desmoraliza símbolos religiosos, destruindo imagens, roupas e objetos ritualísticos. Em situações extremas, a intolerância religiosa pode incluir violência física e se tornar uma perseguição. Segundo Táta Kinamboji, este direito, que é constitucional, previsto no Capitulo I da Constituição Brasileira, tem sido constantemente negado e ignorado pela grande maioria e revestido de violência contra os afro religiosos de todo o Brasil. “O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão, mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém em função de crença ou de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis, presentes na Constituição Brasileira” conclui Táta Kinamboji.

A Programação do KITANDA AFRO será a seguinte:

Serviço

Kitanda Afro

Dia 22/1 (Domingo) - De 8h30 às 13h

Quilombo da Praça (CEDENPA)

Av. Assis de Vasconcelos (esquina da Av. Nazaré) Campina - Belém/PA

 

* A palavra ajeum (ajeun) é a contração das palavras awa (nós) e jeun ou jé (comer) transformada poeticamente em "comer juntos", uma refeição grupal, comunal. 

 

Fontes: Equipe de divulgação do evento e fanpage Candomblé Fé O$tentação

Entenda o dia 21 de janeiro

Em outubro de 1999 o Brasil testemunhou um dos casos mais drásticos de preconceito contra os religiosos de matriz africana. O jornal Folha Universal estampou em sua capa uma foto da Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos – a Mãe Gilda – trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A casa da Mãe Gilda foi invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro foi depredado por evangélicos. Mãe Gilda não suportou os ataques e, após enfartar, faleceu no dia 21 de janeiro de 2000. Em sua homenagem, o dia 21 de janeiro foi instituído como o dia Nacional de Combate à Intolerânica Religiosa.

Visite http://www.planalto.gov.br/

Como agir em casos de intolerância religiosa:

No caso de discriminação religiosa, a vítima deve ligar para a Central de Denúncias (Disque 100) da Secretaria de Direitos Humanos.

Também deve procurar uma delegacia de polícia e registrar a ocorrência. O delegado tem o dever de instaurar inquérito, colher provas e enviar o relatório para o Judiciário. A partir daí terá início o processo penal.

Em caso de agressão física, a vítima não deve limpar ferimentos nem trocar de roupas — já que esses fatores constituem provas da agressão — e precisa exigir a realização de exame de corpo de delito.

Se a ofensa ocorrer em templos, terreiros, na casa da vítima, o local deve ser deixado da maneira como ficou para facilitar e legitimar a investigação das autoridades competentes.

Todos os tipos de delegacia têm o dever de averiguar casos dessa natureza, mas em alguns estados há também delegacias especializadas.

No Pará temos a DELEGACIA DE COMBATE AOS CRIMES DISCRIMINATÓRIOS E HOMOFÓBICOS (DCCDH) DELEGADA HILDENÊ FALQUETO MORAES - INVESTIGADOR JOSÉ CLÓVIS MOTA DO ESPÍRITO SANTO - ESCRIVÃ MARY LÚCIA MARSHALL. 

Endereço: Rua Avertano Rocha, n° 417, entre Travessas São Pedro e Padre Eutíquio. 

Sede da Divisão de Investigações e Operações Especiais (DIOE).

Bairro: Cidade Velha. Belém-PA. CEP: 66.023-120.

Telefone: (91) 3212-3626

Por Afonso Gallindo - ASCOM/RRN

Janeiro 2017

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