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Audiovisual para alem das Fronteiras

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  O Festival Pachamama – Cinema de Fronteira já acontece há oito anos no estado do Acre e teve sua primeira versão itinerante graças ao Programa Amazônia Cultural. A iniciativa possibilitou, em 2015, acesso a filmes e oficinas para cidades dos estados do Acre e Amazonas, nas margens do Rio Negro. Mais que as atividades de formação e exibição, feita em telão montado em praças públicas, a proposta deste projeto contemplado foi também promover o intercâmbio entre a equipe de profissionais do Festival com agentes, grupos culturais locais e o público em geral, multiplicando as ações propostas.

  No mês de maio de 2015, a partir de Manaus, a equipe do festival desceu de barco o Rio Negro, contemplando cidades, uma aldeia e logradouros, com oficinas e exibições em: São Gabriel da Cachoeira (considerado o município com maior predominância de indígenas no Brasil);  Comunidade Tapajós, composta por 11 etnias; Barcelos, segundo maior município do País e Iranduba (Bairro do Alto Nazaré), popularmente conhecido por Mutirão do Cacau.

 

  A mostra proporcionou a fruição gratuita de filmes nacionais para uma região com IDH muito baixo, na qual a população tem pouco ou nenhum acesso a bens culturais, oportunizando, através de sua ação, reflexão e intercâmbio cultural, somado às ações de educação e formação em regiões de fronteira do Brasil, com expressiva presença indígena e onde a questão de identidade é um tema de importância.

 

  A itinerância continuou no mês de junho de 2015 e visitou cinco cidades que margeiam a Rodovia Interoceânica (estrada binacional que liga o Brasil ao litoral sul do Peru), e visitou Capixaba, Xapuri, Reserva Extrativista Chico Mendes (Seringal Cachoeira), Epitaciolândia; Brasileia, Cobija (Bolívia) e Assis Brasil.

 

  O projeto foi realizado em um período de nove meses, sendo quatro de pré-produção, dois de produção (em duas etapas) e cinco de pós-produção, incluindo a edição do vídeos. Foram beneficiadas 12 localidades, sendo sete no Amazonas e cinco no Acre. A participação dos alunos nas oficinas foi de 480 pessoas (média de 40 pessoas por oficina). Os conteúdos exibidos foram: Um longa metragem, “O Menino e o Mundo” do diretor Alê Abreu, e 30 curtas metragem brasileiros. O evento contou com uma participação total de público de 4.800 pessoas.

Foto: ACREAOVIVO.COM

Foto: AGENCIA.AC.GOV.BR

Fizemos uma pequena entrevista com o organizador do projeto, Sérgio de Carvalho, buscado os desdobramentos da ação.

Você informou que o Programa Amazônia Cultural possibilitou a primeira experiência itinerante do Festival Pachamama – Cinema de Fronteira. Qual foi sua impressão sobre essa experiência?

  Na verdade, foi a primeira experiência dentro do Brasil, pois já realizamos a itinerância no Peru há cinco anos, nas cidades de Cuzco e Porto Maldonado, graças a parceria com grupos de lá. O projeto nasceu com a necessidade de nos integrarmos mais com a própria Amazônia, já que a integração dos países fronteiriços com o Acre ocorre durante o Festival. Foi linda a realização, tínhamos a preocupação de ficar pelo menos cinco dias em cada lugar, pois, mais que exibir os filmes, nossa proposta era a de criar pontes com os movimentos locais, realizar oficinas, conhecer atores culturais e sociais. Enfim, promover um intercâmbio. Posso dizer que fomos além do esperado. Até hoje, criamos uma relação direta com os grupos envolvidos, como o Coletivo Difusão (Manaus) e o Cineclube Alto Rio Negro. Além de escolas da rede pública de ensino, especialmente, no interior do Acre.

Foi uma experiência transformadora, que em muito contribuiu para o amadurecimento da proposta do Festival Pachamama, que está em sua oitava edição, e ocorre em Rio Branco. Mas ainda sentimos que devemos nos integrar cada vez mais com a Amazônia.

Sobre as comunidades de fronteira que receberam as atividades do projeto, quais delas foram mais positivas? Ainda é feito contato com essas comunidades?

  As mais positivas foram aquelas onde estabelecemos maior contato com os fazedores locais, pois tivemos desdobramentos. Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, inspiramos um projeto de Cinema itinerante que foi contemplado no edital do Itaú Cultural. Nas cidades de fronteira no Estado do Acre, como Xapuri e Assis Brasil, o festival estabeleceu uma relação direta com as escolas que receberam o evento. Ampliando nosso alcance e divulgando o festival no interior do Acre, até então, o festival ocorria praticamente na capital. Em Barcelos (AM), estabelecemos uma ponte direta com realizadores locais, exibimos seu longa na edição de Rio Branco e mantemos contato frequente. Também, trouxemos dois parceiros na realização da Mostra Itinerante para o Festival, na sua sexta edição, como forma de intercâmbio. Hoje, mantemos uma relação direta com o Coletivo Difusão.

De uma maneira geral, ainda mantemos contato com a maioria dos lugares que receberam o projeto, justamente, pela metodologia que possibilitou um encontro mais profundo em cada lugar que visitamos.

 

Que impacto tiveram as sessões de cinema nas praças, perante as comunidades locais?

  Foi lindo! Ainda mais pensando que cada cidade que recebeu o projeto não tinha sala de cinema e o público, de maneira geral, nunca tinha assistido um filme em tela grande. Um dos locais mais emocionantes foi a comunidade indígena de Tapajós, do Alto Rio Negro, onde vivem pelo menos cinco etnias diferentes. Foi mágica a reação das crianças frente ao telão. Os velhos choraram, pois diziam que iriam morrer sem ir ao cinema.

Em todos os lugares a mesma experiência de encantamento, uma vez que são regiões de baixíssimo IDH, com pouco acesso a bens culturais. Outro ponto a ressaltar foi a nossa programação: exibimos filmes latinos, e a qualidade e o diálogo que eles estabeleceram com as comunidades foi surpreendente. Não tivemos resistência por parte do público, estavam abertos. Nas cidades que ocorreram as oficinas, os alunos se envolveram com a exibição, desde ajudar na parte operacional, com as cadeiras, montando o telão, trazendo material audiovisual realizado na própria cidade (curtas, clips e diversas experiências) até convidando a família pra sessão. Os eventos eram participativos.

 

Foi bem interessante a mostra de curtas realizada a bordo dos barcos, na Região do Amazonas. Como foi a recepção do público?

  A mostra de curtas no barco não estava no projeto original, a ideia ocorreu durante a viagem. As sessões foram ótimas, tendo em vista a monotonia da viagem e a predisposição dos passageiros. Acredito que é o embrião de um projeto que pode ser muito interessante.  A cada sessão no convés do barco, mais gente aparecia. Famílias inteiras. Um ponto que destaco era a diversidade de público. De moradores de Manaus que iam passar férias no interior até indígenas e ribeirinhos, que moravam muito afastado, no interior da floresta. Os relatos sempre foram emocionantes.

 

A realização do festival nas comunidades fronteiriças possibilitou a ampliação de diálogos com as populações latino-americanas, no sentido de uma maior colaboração e estreitamento de laços em uma rede cultural amazônica?

  Posso dizer que ampliou mais a discussão do que significa morar em cidades de fronteiras. Temas como o preconceito, a visão do outro, apareciam com frequência nas oficinas, inclusive era matéria prima dos encontros.

Acredito que o projeto teve mais resultado na própria integração amazônica, com o fortalecimento de uma rede regional.  A maior integração ocorreu com a exibição na cidade de Cobija (Bolívia), capital do departamento de Pando. Temos estreitado laços com diferentes iniciativas desde então, inclusive, com o patrocínio do Ministério da Cultura Boliviano, este ano, vamos realizar uma itinerância no departamento de Pando.

Há oito anos, o Festival Pachamama, que ocorre em Rio Branco, vem estreitando os laços com os países vizinhos, incentivando coproduções, realizando diversas discussões em torno da integração latina por meio do audiovisual.

Mostra acontecendo no barco - Foto:Divulgação PACHAMAMA

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Por Afonso Gallindo - ASCOM/RRN

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