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artesão de sons

Os instrumentos produzidos pelo Mestre.

Mestre Pedro afinando uma rabeca

Para o bragantino Pedro Venâncio, 81, mais conhecido como Mestre Pedro, a música é presente em sua vida desde a infância. Artesão de rabecas, violinos e banjos, também os toca desde criança. Este amor pela música, herança de seu pai, ainda é muito presente até hoje em sua oficina no município de Ananindeua, onde ele ainda constrói, artesanalmente, seus instrumentos.

Filho de músico autodidata de Bragança, de origem simples e da roça, ainda novo observava o pai a tocar violino e também o acompanhava na Festa da Marujada, uma tradição que até hoje, 65 anos depois, ainda segue religiosamente. Há 15 anos, ele é o responsável por puxar com seu instrumento, o banjo, uma das mais tradicionais festas do calendário cultural do Pará.

A paixão pelo instrumento vem de muito cedo. Ainda novo, na pequena roça que morava com seus pais e distante da sede do município, ele ficava observando seu pai tocar um violino, instrumento que lhe era proibido. Um dia, quando seu pai foi para a roça, pegou o instrumento e o afinou e decidiu: Iria construir o seu. No dia seguinte, logo cedo, amolou o machado e partiu para o mato, atrás da árvore certa. Só encontrou uma Samaumeira, árvore de tronco grosso e conhecida como rainha da Amazônia. Apesar de ficar com pena, subiu na copa e cortou um pedaço que desse para talhar um violino. Levou pra casa e foi trabalhar. Escavou a madeira até ficar como ele queria, mas se deparou com um problema: a falta da cola. 

O pai, percebendo o interesse do filho, prontificou-se a comprar a cola, feita a partir de peixe, na sede do município. Mas Pedro não se acomodou e se recordou de uma conversa que ouviu entre dois homens mais antigos sobre uma cola feita a partir do cozimento do leito de um cipó chamado mucunã. Assim nasceu o artesão, que até hoje produz suas rabecas, violinos e banjos de maneira única, em uma pequena oficina no quintal de sua casa.

“Eu gosto de fazer e de tocar. Toco no Carimbó, toco em todo canto. Quando eu tô tocando, eu estou prestando atenção na minha música, no meu pessoal que está tocando comigo. Qualquer coisa que aconteça, eu enxergo tudo” declara orgulhoso mestre Pedro.

A cultura de artesãos de rabeca, infelizmente, está se extinguindo no Pará. Existem poucos ainda vivos e os mais novos não têm interesse em aprender o oficio. Apesar das dificuldades de conseguir matéria prima, a madeira, mestre Pedro tem muito orgulho de fazer todas as peças dos instrumentos que produz. Uma curiosidade a mais é o arco, elemento importante para produzir o som. Nos instrumentos à venda nas lojas, suas fibras são compostas de crina de cavalo. No caso do produzido pelo artesão a origem é diferente. A fibra vem de uma planta chamada jiboia, muito parecida com a popular espada de São Jorge, que é fervida e encerada com cera de abelha, proporcionando um excelente resultado.

O Mestre com sua família: Esposa, neta e bisneto.

Uma parte da oficina, no quintal de sua casa.

Constituída quase que exclusivamente por mulheres, a Marujada é um auto dramatizado no qual predomina a dança. Sua origem, que remonta a 1798, confunde-se com a criação da Irmandade de São Benedito, padroeiro do município de Bragança. Surgiu quando os senhores brancos na época atenderam ao pedido de seus escravos para a organização de uma Irmandade. Foi realizada então a primeira festa em louvor a São Benedito. Em sinal de reconhecimento, os negros foram dançar de casa em casa para agradecer a seus benfeitores.

 

A organização e a disciplina são exercidas por mulheres, as famosas Marujas, que têm à frente uma "capitoa" e uma "sub-capitoa", hierarquias máximas na festa. Os homens são tocadores ou simplesmente acompanhantes. Não há número limitado de marujas, nem tão poucos há papéis a desempenhar. Nem uma só palavra é articulada, falada ou cantada como auto ou como argumentação. Não há dramatização de qualquer feito marítimo. É estritamente caracterizada pela dança de conotação religiosa, cujo motivo musical único é o retumbão, tocado por instrumentos musicais são: tambor grande e pequeno, cuíca, pandeiros, rabeca, viola, cavaquinho e violino.

A MARUJADA

Colaboração: Afonso Gallindo

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